Uma ideia sobre “Dicas para o Sucesso – Autocontrole

  • abril 12, 2009 em 12:52 am
    Permalink

    CASO DE METONÍMIA

    Claudeci Ferreira de Andrade

    Eu gostaria muito de saber qual a intenção daquele bicicleteiro, um “zoilo” como diria Raquel de Queiroz, ou melhor, um metediço, não é de ver que ele corrigiu minha expressão supermetonímica, assim na cara! Tentou me impressionar com sua limitada competência linguística como bom aluno que ele pensa que é ou apenas, espantar o freguês com a expressão máxima de sua incompetência profissional, faltando com a polidez minimamente necessária para um empresário de sucesso!

    Veja o ocorrido, passando próximo à praça criativa com o pneu traseiro da bicicleta murcho, resolvi entrar em sua oficina:

    — Remenda o meu pneu – dirigi-me a ele assim meio imperativo, pois tinha dinheiro suficiente para pagar o que pedisse.

    — Aqui não remendamos pneu, mas sim, câmara de ar – respondeu-me com ar de professor arrogante, mas estava com a roupa suja e as mãos meladas de graxa como um mecânico trabalhador.

    Agora só lamento por não ter explicado para ele que não estava errada minha frase, e nos 10 minutos em que eu assistia ao crítico examinar a câmara em um balde d’água, construía, em silêncio, bons argumentos; revendo mentalmente os textos lidos recentemente: “Metonímia, ou a vingança do enganado” (Raquel de Queiroz), “As razões da metonímia em Vidas Secas” (Roberto Sarmento Lima). Constatando nenhum furo, apenas trocou a válvula, recebeu o dinheiro e virou-se. Por um instante pensei que tivesse se arrependido da inconveniência, por fazer tão barato o serviço: um real.

    A metonímia consiste na substituição de um termo por outro, por existir entre eles uma relação de proximidade, de interdependência, de inclusão. Em minha fase: Remenda meu pneu, há uma sobreposição de metonímia, o dono é usado em lugar do objeto (o pneu é uma parte da bicicleta e não do condutor) e mais ainda, o continente é empregado em lugar do conteúdo (remenda-se a câmara e não o pneu). Portanto, a metonímia é bastante frequente na linguagem do cotidiano, é um recurso expressivo da língua, perfeitamente normal e artístico.

    Com esta crônica, espero preencher aquele vazio que deixei, ou melhor, quero com ela pagar-lhe minha dívida linguística, como deve ser um professor que se preza. Pois só agora tive tempo de escrever aqueles argumentos que não pude dizer na hora, por gentileza. Até porque eu lera em algum lugar, que não me lembro mais, que se o animal tiver sua perna presa em uma armadilha esmagadora, o domesticar está fora de questão, no mínimo até que o animal seja liberto e conduzido a algum grau de conforto.

    Preciso dessa comunhão comigo mesmo para aprender e ensinar. E você, não?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *